O Espaço Livre desta semana conta com a participação da colaboradora Aline Silva, que indica o texto “Ser autêntico não é fácil, mas é atraente: como ser mais fiel a si mesmo“, publicado por Diego Garcia, no site Viva Bem. Confira:
Em um tempo em que reality shows estão na moda, costumamos ouvir com muita frequência a frase “o importante é que estou sendo eu mesmo”. Essa necessidade de afirmação da própria autenticidade pode ser entendida como um sinal de alerta: por que é necessário, em nosso tempo, afirmar repetidamente a nossa autenticidade?
Vejamos o que a frase quer dizer: se eu estou sendo eu mesmo, significa, por um rápido exercício de lógica, que (1) é possível não ser si mesmo ou, (2) que há pessoas sendo algo que não reflete o que de fato são (os falsos ou inautênticos) e (3) que a autenticidade é um valor que precisa ser reconhecido e validado por outros.
Em uma sociedade que nos permite uma enorme variação em relação a identidades (podemos defini-las pela nossa sexualidade, trabalho, gostos pessoais, tendências políticas, preferências musicais, esportes, etc), a definição de autenticidade é facilmente confundida com a necessidade de diferenciar-se do comum.
Ser si mesmo, portanto, implicaria em não ser o outro. E justamente aí está o problema desse tipo de compreensão, já que também somos resultado de uma série de identificações construídas ao longo de nossa história.
Carl Rogers, psicólogo estadunidense e criador da Abordagem Centrada na Pessoa, falava sobre ser autêntico no processo psicoterápico, mas podemos adaptar o conceito em nosso modo de vida.
Para ele um ser autêntico é aquele sem máscara ou fachada e que apresenta de forma aberta os sentimentos e atitudes que emergem no momento relacional, sem falsidade, onde o sujeito se assume como é, com seus defeitos e virtudes. Já para a psicanálise, não se trataria de ser ou não cópia do outro, de estarmos ou não identificados com algo ou alguém, mas sim da capacidade de não trair a si mesmo.
Por que às vezes temos dificuldades em ser autênticos?
Autenticidade requer, consequentemente, sinceridade, mas pode ser muito difícil porque isso implica em diferentes atos de afirmação da diferença. Mas repetir a diferença é algo muito complicado, pois, em determinado momento não sabemos mais se o que está sendo afirmado não é a cópia da cópia.
Se a autenticidade é medida ou sentida por aquilo que ela exprime de singular, manter-se na repetição e reafirmação de um modo de ser acaba se tornando uma forma falsa de copiar a si mesmo. Isso é muito comum em casos de artistas ou figuras públicas que se tornam conhecidas por algo de autêntico e, rapidamente, são vistos pela maioria como uma imitação falsificada do que já foram.