Educação para o trabalho
José Pastore
Participei em dia 29 de maio de um rico seminário realizado em Brasília que buscou encaminhar soluções para tornar o ensino profissional mais efetivo para os jovens, empresas e sociedade em geral. O evento foi patrocinado pela CNI/SENAI e pela Consultoria McKinsey que apresentou um amplo diagnóstico do quadro atual e sugestões de mudanças.
No campo do ensino profissional há um sério desencontro: professores e alunos acham que ensinam e aprendem bem enquanto que empresários se queixam da má qualificação dos jovens. Esse desencontro não surpreendeu, pois são inúmeros os casos em que as vagas não são preenchidas por falta de capacitação assim como muitos jovens lamentam não encontrar trabalho apesar de se sentirem acima da média em termos de formação escolar. Nesse ponto, me perguntaram: de onde vem esse desencontro? O que as empresas esperam dos candidatos? Alinhei algumas respostas que compartilho com os leitores.
O mercado de trabalho está muito exigente. A empresa moderna busca quem seja capaz de dar respostas e não apenas quem ostenta este ou aquele diploma. Nos processos de recrutamento conta muito mais a capacidade de pensar do que uma avalanche de informações. Além disso, observa-se ter acabado a dicotomia entre especialistas e generalistas porque a empresa moderna espera que o candidato tenha experiência e bom domínio da sua profissão, e que saiba usar o bom senso, que tenha lógica de raciocínio, que seja capaz de escrever claramente e entender o que ouve e lê, que sabe trabalhar em grupo, que domina a linguagem da informática, etc.
Parte desses atributos se aprende na escola profissional ou nas universidades, mas, outra parte se aprende na escola fundamental e média. Esse é o caso da aprendizagem da linguagem, matemática e ciências que ajudam na formação do bom senso e da lógica de raciocínio. Além de tudo isso, as empresas modernas esperam que o candidato goste de fazer o que faz, tenha zelo no uso das máquinas e equipamentos e saiba respeitar os colegas e os superiores. A cada dia que passa, aumenta a importância dos fatores atitudinais para a conquista e a preservação do emprego assim como para a ascensão na carreira. As empresas gostam quando os profissionais entendem que, nos dias de hoje, o seu emprego depende mais dos consumidores do que dos gestores e dos proprietários da firma em que trabalham. Sim porque, para manter o emprego, é essencial atender o que os consumidores desejam em matéria de qualidade, preço, pontualidade atendimento na pós-venda. Tudo isso requer competência profissional e condutas adequadas assim como demanda empenho, persistência e paciência.
Para esse novo mundo do trabalho, já não basta ser adestrado. É preciso ser educado, e bem educado, porque no adestramento a pessoa aprende a fazer uma tarefa que é executada pelo resto da vida. As novas tecnologias, entretanto, estão entrando na produção a uma velocidade irreconhecível o que exige uma grande capacidade de apreender continuamente, o que só pode ser garantido pela educação que transmite ao profissional os atributos acima indicados.
Ou seja, vivemos um tempo em que a história corre muito depressa. Toda vez que isso acontece, abrem-se inúmeras situações para os seres humanos se aproveitarem das novas oportunidades. Ao mesmo tempo, criam-se enormes desafios para as escolas que seguem o ritmo cadenciado que é próprio do ato de ensinar e aprender.
Esses desafios vêm se apresentando em todas as partes do mundo, o que dirá em um país como o Brasil que ainda carrega deficiências profundas em todo espectro educacional. Li uma constatação espantosa no valioso trabalho “Anuário brasileiro da educação básica 2013” segundo a qual “apenas um quarto da população brasileira é considerada plenamente alfabetizada” (p. 71). Uma calamidade!
A nossa caminhada é longa e terá de ser vencida com foco, objetividade e estímulos adequados para alunos, professores e gestores da educação. No campo do ensino profissional, quanto maior for o entrosamento entre as empresas e as escolas, maior será a probabilidade de se motivar os estudantes, ter foco e objetividade e valorizar os mestres e os diretores de escolas na direção correta. Essa foi uma das principais conclusões do referido Seminário.
José Pastore é professor de relações do trabalho da Universidade de São Paulo e membro da Academia Paulista de Letras