TELEFONE CELULAR E ATIVIDADE FÍSICA
Um dos principais elementos do estilo de vida que tem impacto sobre a saúde é a atividade física. Na história da nossa civilização a maior parte das atividades cotidianas demandava grande esforço. Com o progresso tecnológico mais recente o esforço humano foi sendo substituído por máquinas e equipamentos e, portanto, novos hábitos foram sendo criados.
Muitos desses novos hábitos decorrentes do desenvolvimento, como assistir TV, usar a internet por tempos prolongados e jogar vídeo games, implicam redução da atividade física e são classificados como comportamentos sedentários. Mais recentemente, os telefones celulares integraram estas funções em um só aparelho. Porém, sua concepção para uso móvel não incluiria o seu uso nos comportamentos sedentários. Sua inerente portabilidade permite que várias de suas funções sejam desenvolvidas, tanto na inatividade física quanto durante uma atividade, mesmo que moderada ou intensa, como uma caminhada rápida.
Apesar destes pressupostos até agora a relação entre uso de celular e comportamentos sedentários ainda não havia sido testada.
Nesta última semana (Julho de 2013), um estudo publicado na revista International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity apresenta uma pesquisa que avaliou em uma amostra de estudantes americanos a relação entre frequência de utilização dos telefones celulares e parâmetros relacionados com a atividade física, entre eles a aptidão física avaliada por corrida em esteira.
Os resultados, apesar de não serem surpreendentes, não deixam de ser preocupantes. Os participantes que faziam maior uso do celular apresentaram comportamento sedentário, com menores índices de aptidão cardio-respiratória e maior percentagem de gordura. Esses fatores aumentam o risco para várias doenças.
Mesmo sendo um aparelho portátil, o tempo de uso diário observado é muito grande. Os participantes gastam, em média, cinco horas por dia em seus celulares, utilizando suas múltiplas funções. A média de mensagens enviadas por participante/dia chega perto de duas centenas. Provavelmente este tempo, com a atenção voltada para compor, enviar e receber mensagens, conversar, jogar, assistir vídeos, se inteirar das últimas notícias, etc., iniba o desenvolvimento de atividades físicas corriqueiras e o engajamento em atividades esportivas. Por outro lado, como este tipo de estudo não permite que se estabeleça uma relação de causa-efeito, não se pode descartar a possibilidade de que os menos adeptos das atividades físicas naturalmente vão usar mais o celular.
Os comportamentos sedentários considerados fixos já ocupam grande parte do dia (e parte da noite) das pessoas, principalmente dos jovens, e sua influência vai além da atividade física, afetando também outras funções vitais como o tempo de sono e o padrão alimentar. O acréscimo de um novo comportamento sedentário em potencial, como o uso demasiado do telefone celular, deve ser considerado nas avaliações do impacto da hiper-conexão sobre fatores que podem prejudicar a saúde.